quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

#29

A processar este filme. E a sentir-me febril com o mesmo. 

#28

A propósito do livro da Elena Ferrante A Amiga Genial, em conversa com quem também o leu, falávamos das contradições que as relações nos trazem. E de, não sabendo lidar, com essas contradições, constrangimentos, haver pessoas com quem deixamos de falar, e que em determinada altura das nossas vidas tiveram um alto significado. Na verdade há pessoas que deixam de fazer sentido variando os contextos. Outras fazem-no sempre. O efeito reparador que devemos ter para com as relações é a mais saudável iniciativa que temos para connosco e o outro. Eu gosto desse efeito reparador. Dá-me energia. Quem dera que aos outros também se lhes acometesse essa iniciativa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

#27

Quando me sento não sei, na maior parte das vezes, o que dizer. Fico ali a remoer num silêncio contundente. Antes de me sentar vou sempre a antecipar, a pensar, a relacionar e todos os verbos que cabem no caminho até à 5 de outubro. O som do meu pensamento cede ao silêncio quando me sento naquela cadeira. É o quê? Sinto-me intimidada. Intimidade, sentir-me intimidada - há aqui uma relação tão opaca. Há um movimento íntimo que nos move até nos sentirmos invadidos. Mas nem é uma invasão, é talvez a minha evasão.
Quando me sento sei que vai ser difícil levantar-me, que vou querer continuar atrás das palavras que a dado momento saltam da boca.
Não sei o que dizem as minhas mãos, o meu olhar, a forma como me sento. Não sei o que dizer sobre a forma particular, ou não, de alinhar as palavras, às vezes é quase inconsciente.
Quase sempre quero tirar tempo para a ver. Mas nem sempre consigo. É bonita, de uma beleza clássica, com uns ternos olhos verdes cheios de calor que abraça quem chega para fugir de algum lugar. É bonita de uma forma pouco óbvia. Tem umas mãos delicadas, de quem agarra livros e solta as páginas com volúpia. O seu cabelo parece que abraça o corpo todo, é incrível quando o espalha pelas costas. Fala apenas quando tem mesmo que falar, porque de resto está sempre a comunicar no silêncio. Frequentemente satisfaço-me apenas com um assentir e uma das mãos pousadas no rosto. Mas quando fala. Quando fala perscruto cada rigorosa palavra, ouço cada sílaba, de olhos fixos no seu olhar para lhe sentir a emoção. Por vezes sorri, mesmo perante a total ausência do meu sentido de humor. 
Sei que sou demais. Sinto-me demais. Numa hora cabem todas as palavras que devia ter escrito no último mês. Não sei se me pronuncio bem, se faço raciocínios correctos. Ainda que seja ali a minha casa.
As paredes foram mudando. A primeira estante tinha todos os livros alinhados, e lembro-me de me fixar no Sandor Marái, muitas vezes quis comentar que adorei aquele livro, mas nunca tive coragem. Porquê? Se ali é o lugar da intimidade? A intimidade das palavras, daquilo que nos toca a pele e está por baixo dela.
No chão há um tapete que abraça quem o pisa, emana conforto. Bem como os divãs, cuidadosamente posicionados. Soube há tempos que aquele é único. Só eu me sento ali.
Aquele lugar é por demais íntimo.
E ainda assim eu pouco sei sobre ela.
Afinal o que é a intimidade?

#26

- Pequena nota introdutória. Ainda sou da era cibernética em que um cardinal # significava a alusão a um número e não a uma hashtag. Sendo assim, continuarei a nomear os títulos dos posts assim -

Caramba, lembrei-me que tenho um blog. Alguém de outros tempos recordou-me isso. Embora eu devesse recordar-me apenas, sem recorrer aos estímulos dos outros, mas enfim, não vale a pena laborar nas minhas omissões.
A omissão de escrever é seriamente prejudicial para a minha saúde mental, mas na verdade tenho um bloqueio há alguns anos (10?) que me matou o rigor, o trabalho, o esforço necessário para que conseguisse continuar a criar. Sim, escrever é criar. Criar com as palavras, alinhá-las com estilo. Ainda que acredite, na mesma medida, no rigor e no esforço.
No início do ano voltei a alinhar palavras num caderno, com uma caneta, daquelas estupendas que caem bem em qualquer papel e onde admiro a minha letra tão bem desenhada. Ainda consegui empreender no desafio durante duas semanas. Mas rapidamente me dediquei a outras coisas. Não consigo perceber porque é que uma das coisas que mais me prazer me dá, é uma das mais difíceis de concretizar. Vou tentar procurar a resposta. E um dia destes, quem sabe daqui a 10 anos escrevo sobre isso.

Mas qual é afinal o objetivo destas palavras agora? Vamos ser pragmáticos, escrever 20 posts e está feito, abre-se novamente o caminho a uma rotina.

Estou colada nesta canção.
B Fachada - Farto de Voar

e reza assim:

Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão
Tenho um barco na vida espetado
Só suspenso por fios dum lado
E do outro a cair
a cair
no arpão
no arpão

Levo a dormir
Sonhos que andei para trás
Ergo o porvir
Trago nos bolsos a paz
Tenho um corpo na morte espetado
Só suspenso por balas dum lado
E do outro a escapar
a escapar
de raspão
de raspão

Ponho a girar
Cantos que ninguém encerra
De par em par
Abro as janelas para terra
Tenho um quarto na fome espetado
Só suspenso por água dum lado
E do outro a cair
a cair
no alçapão
no alçapão

Farto de voar
Pouso as palavras no chão
Entro no mar
Sinto o sal de mão em mão



segunda-feira, 18 de março de 2013

#25

Já são muitos os anos para saber que me estou sempre a enganar. Aos 20 interrompia um mês, talvez dois. Aos 30 (a caminhar para os 31, fuck!), já sei que me ocorreu que me apetece isto agora, mas não sou suficientemente rigorosa para cumprir vontades, um horário, uma obrigação. Devia escrever, raios.
E se tentar a partir de agora?
Todos os dias um pouco? Ou estou a enganar-me outra vez?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

#24

Parte III e três quartos.
Chegas com um passo atabalhoado, soou-me estranho porque o teu andar é elegante e feminno. Abres a porta com força, bates zangada. Marcas mais uma vez uma posição. Saltou-me imediatamente o coração do peito e voltou a inquietação. Mantive-me imóvel, fechei os olhos e desejei que tudo passe rápido.
Para além de romântica empedernida, sei hoje que sou uma romântica com expectativa. Pensei que pudesses chegar com um abraço em silêncio, daqueles que não precisam de palavras, só o calor do corpo que se une àquele que se deseja. Mas não.
A minha impaciência não me previne quanto a atitudes imprevistas. Mas ontem respeitei a tua zanga. Já hoje sinto-me novamente impaciente, sem perceber a escala do teu estado. Ponho novamente tudo em causa, porque também sou uma romântica muito pessimista. E penso nas palavras que me disseste no Domingo, que me deixaram em estado de euforia. Será que em três dias perderam o sentido para ti? Tenho o maior dos medos que isso seja verdade. E depois vem a razão dizer que não há discussão que possa distruir um amor tão único.
É a minha insegurança que não me deixa dar-te o tempo que precisas para deixares a zanga de lado. E galopar passos para voltar a estar junto de ti. O problema é que quanto mais me aproximo mais te afastas. Mas no fundo o que sinto é que quanto mais te afastas de mim, mais te afastas do nosso amor e, na verdade, penso poderá perder o sentido para ti, quanto mais importância atribuis à zanga.
Se eu me afastar tu aproximas-te de volta? Lutas por mim? Fará isto sentido para ti?
Escrevo estas palavras com o coração partido aos bocados, colado com horas de sono no sofá que não me deixa dormir na minha posição preferida. Ao teu lado, a tocar em alguma parte do teu corpo, para me sentir a noite inteira descansada. Que saudades.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

#23

Ainda a Zanga.
As vírgulas são o balão de oxigénio de um texto. E ao lembrar-me desta soberba e genial conclusão, cujo o autor ou proveniência não me recordo, penso que preciso de vírgulas na minha cabeça, no meu pensamento.Para dar um bocado de oxigénio a este estado de espírito mortificante.